uma tradição que se baseava na verdade, e que não era menos desanimadora para os que tentassem romper o mysterio. Era a do mar de Sargaço, que não era desconhecido dos antigos, esse mar que os marinheiros de Colombo encontraram já muito para o occidente, e em que se julgava que as plantas enredadas enleiavam por tal fórma os navios que lhes paralysavam completamente os movimentos.
Essas idéas falsas, derivadas da sciencia mal comprehendida, e que povoavam os espiritos dos marinheiros d’essa epocha, são as mesmas que ainda hoje habitam no cerebro do povo ignorante, apesar da immensa propagação de dados scientificos verdadeiros, obtidos pela experiencia de todos os dias. No seu delicioso livro Sull’Occeano, o grande escriptor italiano Edmundo de Amicis conta-nos o que ouviu a bordo de um paquete que singrava para a America aos passageiros de terceira classe, emigrantes que iam trabalhar no Rio da Prata. Parece-nos estarmos a ouvir as palestras que se travariam entre os marinheiros do seculo XV a bordo das suas esguias caravellas. Apesar dos factos demonstrarem o contrario, ainda suppunham que, ao atravessarem a zona torrida, teriam de atravessar um mar incendiado. Suppunham que veriam claramente a curvatura da terra e o navio descer por ella como um bichinho em volta da superficie de uma laranja. Todos esses terrores pueris dos passageiros que os marinheiros