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Esboço historico das investigações effectuadas no Estado de S. Paulo

Quando pela primeira vez atravessámos o braço de mar que separa a ilha de S. Vicente da terra firme, no mez de Maio de 1875, passámos perto da ilha do "Casqueiro". N'essa época havia alli muita vida. Um numeroso grupo de trabalhadores lá se movia em plena actividade, revolvendo a superficie e enchendo carrocinhas que desciam até beira-mar, ao pé de uns fornos que deitavam espessas nuvens de fumaça e onde umas lanchas chatas recebiam carregamento de saccos cheios.

Admirados deste movimento industrial numa ilha pequena, perguntámos ao nosso companheiro: "que estabelecimento é aquelle"?

"É uma fabrica de cal", esclareceu-nos elle.

"De cal"? replicámos, "esta ilha é então formada de uma rocha calcarea"?

"Não", respondeu, "extrahem a cal das cascas de ostras de um grande sambaqui que cobre quasi toda a ilha".

Ouvindo este nome pela primeira vez, perguntámos ainda : "Sambaqui? que vem a ser"?

"São uns montes de cascas de ostras e outras conchas, tambem denominados ostreiras ou casqueiras; uns pensam que foram formados pelos bugres e outros crêem que se originam do diluvio ou da acção do mar, sei eu lá", concluiu o nosso companheiro.

E eis em resumo o que até agora se conhece e o que se póde saber sem os ter visto e explorado pessoalmente, por mesmo porque tradições quasi que não as ha, e os moradores da costa jamais cogitaram d'elles.

Comtudo, excitaram-nos a curiosidade aquelles montes de cascas de ostras, e faziamos tenção de alli voltar, logo que para isso houvesse opportunidade.