Página:Os sambaquis de S. Paulo.pdf/38

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veres por muito tempo. E', pois, possivel que este logar constituisse uma dessas passagens e que o sambaqui fosse formado pelos restos de comida ou matolotagem que comsigo levavam. Encontram- se ahi resto de quadrupedes, muitos ossos de peixe e alguns ossos humanos; mas, objectos de pedra lascada ou trabalhada, não os ha; entretanto não faltam pedras brutas que serviam provavelmente para abrir as ostras e quebrar os ossos. São estes os principaes sambaquis deste segundo centro que talvez nem devesse ser separado do anterior. Sabe-se que muitas vezes bastava um rio para separar duas tribus, e é quasi fóra de duvida que antigamente foi maior o espaço que occupavam os ca- naes de Santos e de Bertióga, sendo portanto maior a separação entre a terra firme e a ilha ou ilhas. Consta tambem dos documentos antigos que nem sempre as familias todas de uma e mesma tribu habitavam juntas, mas sim aggrupavam-se separadamente formando aldeias de 7 a 9 cabanas apenas, onde moravam as familias mais proximas em parentesco, e só por occasião de festas maiores é que ajuntavam-se, provindas de varias aldeias. Além do mais não se fixavam definitivamente em parte alguma e mudavam cada vez que escasseiavam os alimentos num logar. Isto, porém, é o que sabemos dos indios que os portuguezes lá encontraram, mas não ha motivo algum para não suppormos o mesmo relativamente aos habitantes anteriores, que certamente eram ainda mais incultos e, portanto, menos sociaveis, em consequencia do maior egoismo, principalmente em materia que tão de perto interessava ao bem-estar do individuo e de sua familia, como era a questão da maior ou menor facilidade de achar alimento, questão em que os bancos de ostras naturalmente representavam um papel saliente. Entretanto não duvidamos que os autores dos sambaquis, tanto num como noutro centro, pertencessem a uma e mesma tribu e que tivessem uma lingua commum.