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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/106

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depois o conde, (earl na Inglaterra, jarl na Noruega), depois o marquez, depois o duque, depois o par de Inglaterra, depois o principe de sangue real, depois o rei. Esta escada sobe do povo á burguesia, da burguesia ao baronato, do baronato ao pariato, do pariato a realesa.

Graças aos seus triumphos, ao vapor, ao Navio-Diabo, mess Lethierry já era alguem. Para construir a Galeota teve de pedir dinheiro emprestado; endividou-se em Bremen, e em Saint-Malo, mas ia amortisando a divida todos os annos.

Lethierry comprou fiado, na entrada do porto de Saint-Sampson, uma linda casa de pedra e cal, novasinha, entre o mar e o jardim; no angulo estava este nome: Bravées. A casa, cuja frente fazia parte da muralha do porto, era notavel por duas fileiras de janellas, ao norte, do lado de um cercado cheio de flôres, ao sul, do lado do mar; de modo que era uma casa com duas fachadas, dando uma para as tempestades, outra para as rosas.

As fachadas pareciam feitas para os dous moradores: mess Lethierry e miss Deruchette.

Era popular a casa de Lethierry, porque elle proprio acabou sendo popular. A popularidade nascia em parte da bondade, da educação e da coragem delle, parte dos homens que elle salvara de perigos imminentes, em grande parte do bom exito da Galeota, e tambem por ter dado ao porto de Saint-Sampson, o privilegio das partidas e chegadas do vapor. Vendo que decididamente o Devil-Boat era um bom negocio, Saint-Pierre, capital, reclamou o vapor para si, mas Lethierry conservou-o para Saint-Sampson.