Página:Os trabalhadores do mar.djvu/167

Wikisource, a biblioteca livre
— 159 —

meio de grande barulho. Á mesa dos guardas da alfandega e dos guardas da costa fallava-se menos.

A policia das costas e dos portos quer menos sonoridade e menos clareza no dialogo.

A mesa dos mestres de navio era presidida por um velho capitão de longo curso, o Sr. Gertrais-Gaboureau. Não era um homem, era um barometro. Os habitos do mar deram-lhe uma espantosa infallibilidade de prognostico. Elle decretava o tempo que devia haver no dia seguinte; ascultava o vento; tomava o pulso á maré. Dizia á nuvem; mostra-me a tua lingua. A lingua era o relampago. Era o doutor da vaga, da brisa e da lufada. O oceano era o seu doente; fez uma viagem á roda do mundo como quem faz uma clinica, examinando todos os climas na sua boa e má saude; sabia a fundo a pathologia das estações. Enunciava factos como este: — o barometro desceu uma vez em 1796 a tres linhas abaixo da tempestade. Era marinheiro por amor. Odiava a Inglaterra tanto quanto estimava o mar. Estudou cuidadosamente a marinha ingleza para conhecer os seus lados fracos. Explicava em que ponto o Sovereign de 1637 differia do Royal William de 1670 e de Victory de 1755. Comparava os castellos de pôpa. Lamentava as torres no tombadilho e os cestos de gavea afunilados do Great Harry de 1514, provavelmente no ponto de vista da bala franceza que se aninhava perfeitamente naquellas superficies. Para elle as nações só existião por suas instituições maritimas; fazia synonymias extravagantes. Chamava a Inglaterra Trinity House, a Escossia Northern Commissioners, e a Irlanda Ballast Board. Abundava de