Página:Os trabalhadores do mar.djvu/237

Wikisource, a biblioteca livre
— 229 —

oceano; não pertence a esse honrado gentleman, o rei de Inglaterra. A caixa das cartas é commum. Pertence a todas as bandeiras. Post-Office, ha nada mais chinez! parece uma chicara de chá que o diabo offerece em pleno oceano. Eis como se faz o serviço. Todos os navios que passam expedem ao poste um escaler com os seus despachos. O navio que vem do Atlantico envia cartas para Europa, e o navio que vem do Pacifico manda cartas para a America. O official que commanda o escaler põe na barrica o maço de cartas e tira o maço que lá encontra. Toma-se conta dessas á espera que o proximo navio tome conta das cartas que se deixam. Como se navega em sentido contrario, o continente d’onde o senhor vem é aquelle para onde eu vou. Levo as suas cartas, o senhor leva as minhas. A barrica está presa ao poste por uma corrente de ferro. E chove! E neva! Mar dos diabos! O Tamoulipas ficará ahi. A barrica tem uma tampa, mas sem fechadura nem cadeado. Bem vê que se póde escrever aos amigos. As cartas chegam ao seu destino.

— É esquisito, murmurou Clubin pensativo.

O capitão Gertrais-Gaboureau voltou-se para a bebida.

— Supponhamos que o bregeiro do Zuela me escreva, mette as suas garatujas na barrica de Magalhães, e dentro de quatro mezes tenho as cartas do patife. Diga-me lá, capitão Clubin, sahe amanhã?

Clubin absorto em uma especie de somnambulismo, não ouvio. O capitão Gertrais repetio a pergunta. Clubin despertou.

— Sem duvida, capitão Gertrais. É o dia marcado. Devo sahir amanhã de manhã.