Página:Os trabalhadores do mar.djvu/276

Wikisource, a biblioteca livre
— 36 —

ferias, e é o vigario, algum anjo seminarista, algum bocio com azas de pardal, quem dirige os negocios.

O capitão Clubin, que se aproximara, pôz a mão no hombro do parisiense.

— Silencio, disse elle. Cuidado nas palavras. Estamos no mar.

Ninguem mais fallou.

No fim de cinco minutos, o guernesiano, que tudo ouvira, murmurou aos ouvintes.

— É um capitão religioso.

Não chovia e todos estavam molhados. Só se reparava no caminho que o navio descrevia por uma especie de máo-estar. Parecia que se entrava na tristeza. O nevoeiro emmudece o oceano, adormenta a vaga e supita o vento. Naquelle silencio, o rumor da Durande tinha um não sei que de inquieto e lamentoso.

Já se não encontravem navios. Só ao longe, quer do lado de Guernesey, quer do lado de Saint-Malo, alguns navios estavam no mar, fóra do nevoeiro; para esses a Durande, submergida na bruma, não era visivel, e a sua longa fumaça, presa a cousa nenhuma, parecia-lhes um cometa negro no céo branco.

De repente Clubin exclamou:

— Com seiscentos! estás dirigindo mal. Olha que me avarias o barco! Mereces bem que te ponha a ferros. Vai-te, bebado!

E tomou a canna do leme.

O timoneiro humilhado refugiou-se na cordoalha da prôa.

Disse o guernesiano: