Página:Os trabalhadores do mar.djvu/290

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Quanto a Deos, Clubin curava pouco dessa palavra de quatro letras.

Passou como religioso. Que importa?

Ha cavernas no hypocrita ou antes, o hypocrita é uma caverna.

Quando Clubin ficou só, abrio-se-lhe o antro. Teve um instante de delicias; arejou a alma.

Respirou largamente o seu crime.

O fundo do mal tornou-se visivel naquelle rosto. Clubin abrio-se. Nesse momento, o olhar de Rantaine ao pé daquelles olhos pareceria um olhar de recem-nado.

Arrancar a mascara, que livramento! A consciencia de Clubin alegrou-se por ver-se hediondamente nua, e por tomar livremente um banho ignobil no mal. O constrangimento de um longo respeito humano acaba por inspirar um gosto violento á impudencia. Chega-se a uma certa lascivia na perversidade. Existe nessas tremendas profundezas moraes tão pouco sondadas, uma não sei que ostentação atroz e agradavel que é a obscenidade do crime. A insipidez da falsa reputação dá appetite de vergonha. Desdenha-se os homens a ponto tal que se deseja o despreso delles. Ser estimado, aborrece. Admira-se a franquesa da degradação. Olha-se cobiçosamente a torpeza que se mostra tão a seu gosto na ignominia. Os olhos obrigados a baixar-se, tem muitas vezes destes olhares obliquos. Nada se approxima tanto de Messalina como Maria Alacope. Vede Capiere e a religiosa de Louviers.

Clubin vivera debaixo do véo. O descaramento foi sempre a sua ambição. Invejava a mulher publica e a fronte de bronze do opprobrio aceito; sentia-se