Página:Os trabalhadores do mar.djvu/304

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A sua anciedade era tal que nem mesmo teve medo de entrar naquella casa.

Demais, a porta da sala baixa estava escancarada. Na soleira havia um formigueiro de homens e mulheres. Todos entravam; elle entrou.

Entrando, achou encostado á porta o Sr. Landoys que lhe disse a meia voz:

— Então, já sabe do successo?

— Não.

— Eu não quiz dizer-lh’o ha pouco do meio da rua. Pareceria correio de desgraças.

— Que foi então?

— Perdeu-se a Durande.

Havia muita gente na sala.

Os grupos fallavam baixo, como no quarto de um doente.

Os assistentes, que eram os visinhos, os viandantes, os curiosos, estavam amontoados ao pé da porta, com uma especie de receio, e deixavam vasio o fundo da sala onde estava, ao lado de Deruchette lacrimosa e assentada, mess Lethierry de pé.

Lethierry estava encostado ao tabique do fundo. O bonet de marujo cahia-lhe nas sombrancelhas; uma mecha de cabellos grisalhos prendia-se-lhe na face. Não dizia nada. Os braços não tinham movimento, a boca parecia não ter alento. Parecia uma cousa encostada á parede.

Ao vê-lo, sentia-se um homem dentro de quem se extinguira a vida. Deixando de existir a Durande, Lethierry já não tinha razão de ser. Tinha uma alma no mar, e essa alma acabava de perecer. Que faria elle agora? Levantar-se de manhã, deitar-se de noite.