Página:Os trabalhadores do mar.djvu/321

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para a paixão o um corpo que parecia feito para o amor. Era loiro, rosado, fresco, delicado e flexivel, apezar do vestuario severo, com faces de donzella e mãos delicadas; embora reprimido, tinha o gesto vivo e natural. Tudo nelle era encanto, elegancia, e quasi volupia. A belleza do seu olhar corrigia esse excesso de graça. O sorriso sincero, que deixava ver uns dentes de criança, era pensativo e religioso. Era a gentileza de um pagem e a dignidade de um bispo.

Debaixo dos espessos cabellos louros, tão dourados que pareciam garridos, tinha elle um craneo elevado, candido e bem feito. Uma leve ruga de inflexão dupla, entre as duas sobrancelhas, despertava confusamente a idéa da ave do pensamento pairando, com as azas abertas, no meio daquella fronte.

Sentia-se ao vel-o, uma dessas creaturas benevolas, innocentes e puras, que progridem em sentido inverso da humanidade vulgar, a quem a illusão torna sabios e a experiencia enthusiastas.

A mocidade transparente deixava vêr a maturidade interior. Comparado ao padre dos cabellos grisalhos que o acompanhava, á primeira vista, parecia filho, reparando-se bem, parecia pai.

Era este o Dr. Jaquemin Herodes. O Dr. Jaquemin Herodes pertencia á alta igreja, que é pouco mais ou menos um papismo sem papa. O anglicanismo nessa época era agitado pelas tendencias que depois se affirmaram e condensaram no puleysmo. O Dr. Jaquemin Herodes era desse matiz anglicano, que é quasi uma variação romana. Era alto, correcto, delgado e superior. O raio visual interior