Página:Os trabalhadores do mar.djvu/325

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— Não quero nada com a escravidão, disse Lethierry.

— A escravidão, replicou o reverendo Herodes, é de instituição sagrada. Está escripto: «Se o senhor bater o escravo, nada lhe será feito, porque bate o seu dinheiro.»

Graça e Doce, na soleira da porta, ou viam com uma especie de extase as palavras do reverendo doutor.

O reverendo continuou. Era, em summa, como dissemos um bom homem; e quaesquer que podessem ser os seus dissentimentos de casta ou de pessoa com mess Lethierry, vinha-lhe sinceramente dar o auxilio espiritual, e mesmo temporal, de que dispunha.

Se mess Lethierry estava arruinado ao ponto de não poder cooperar, com fructo, numa especulação qualquer, russa ou americana, porque não entrava no governo e nas funcções assalariadas? São nobres empregos esses, e o reverendo estava prompto a introduzir mess Lethierry. Vagára em Jersey o lugar de deputado-visconde. Mess Lethierry era amado e estimado, e o reverendo Herodes, decano de Guernesey, podia obter para mess Lethierry o emprego de deputado-visconde de Jersey. O deputado visconde é um funccionario consideravel; assiste, como representante de Sua Magestade aos actos juridicos, aos debates da plebe, e ás execuções de sentenças.

Lethierry fixou os olhos no Dr. Herodes.

— Não gosto de enforcamentos, disse elle.

O Dr. Herodes, que até então pronunciára todas as palavras com a mesma inflexão, teve um assento de severidade e uma inflexão nova: