Página:Os trabalhadores do mar.djvu/390

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senhor do fogo, tirou a flamma daquelle rochedo inundado.

Estando a escavação quasi toda aberta, o fumo sahia livremente, enegrecendo o rochedo. Aquelle rochedo que parecia feito para a espuma, conheceu a ferrugem.

Gilliatt tomou por bigorna um seixo multicor offerecendo a forma e as dimensões que se quizesse. Era uma perigosa base para bater, e podia acontecer que rebentasse. Uma das extremidades do seixo, arredondada, e acabando em ponta, podia a rigor figurar de bigorna conoide, mas faltava a bigorna pyramidal. Era a antiga bigorna de pedra dos Troglodytas. A superficie polida pela agua, tinha a rigidez do aço.

Gilliatt lastimava não ter trazido a sua bigorna. Como ignorava que a Durande estivesse partida pelo meio, esperava achar toda a ferramenta de carpintaria, ordinariamente collocada no porão da prôa. Ora, era exactamente a prôa que faltava.

As duas escavações, conquistadas no escolho por Gilliatt, eram visinhas uma da outra. O deposito e a forja communicavam-se.

Todas as noites, acabado o trabalho, Gilliatt ceava um pedaço de biscouto molhado em agua, um ursosinho d’agua, ou algumas castanhas do mar, caça unica daquelle rochedo, e tiritando como a corda, trepava para ir dormir na grande Douvre.

A especie de abstracção em que Gilliatt vivia, augmentava-se pela materialidade das suas occupações. A realidade era em alta doze. O trabalho corporal com os seus pormenores innumeraveis