Página:Os trabalhadores do mar.djvu/448

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a quantidade que póde entrar é menor que a quantidade que deseja entrar, a multidão machuca-se e a agua convulsiona-se. Emquanto sopra o vento do poente, ainda a mais fraca brisa, ha nas Douvres este assalto, duas vezes por dia. A maré levanta-se, a rocha resiste, a abertura é pequena, a onda entrando á força salta e ruge, e um marulho enraivecido bate as duas fachadas internas da viéla. De modo que as Douvres ao menor vento do oeste, offerecem este espectaculo singular: no mar, calma, no escolho, tempestade. Esse tumulto local e circumscripto, não é uma tormenta; é apenas uma revolta de vagas, mas terrivel. Quanto aos ventos do norte e do sul, esses fazem pouca ressaca na garganta do escolho. A entrada por leste, é preciso lembra-lo, confina com o rochedo Homem; a abertura temivel do oeste fica na extremidade opposta exactamente entre as duas Douvres.

Nessa abertura de oeste é que se achava Gilliatt com a Durande naufragada e a pança ancorada.

Parecia inevitavel uma catastrophe, esta catastrophe imminente, tinha, embora pouco, o vento de que precisava.

Dentro de poucas horas o inchamento do mar que subia, ia naturalmente entrar em grande luta no estreito das Douvres. As primeiras vagas já começavam a rugir. Inchamento esse, refluxo impetuoso de todo o Atlantico que teria atraz de si a totalidade do mar. Nenhuma borrasca, nenhuma cólera; mas uma simples onda soberana, contendo em si uma força de impulsão que, partindo da America para chegar á Europa, tinha duas mil leguas de jacto. Essa onda, barra gigantesca