Página:Os trabalhadores do mar.djvu/521

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a que ficava em frente de Gilhatt, vizinha da pança, ficára solida nos rochedos. A parte anterior, que fazia face a Gilliatt, estava pendurada. Uma fractura é um gonzo. Aquella massa oscillava sobre as suas fendas, e o vento balançava-a com um tremendo rumor.

Felizmente a pança já não estava em baixo.

Mas o balanço abalava a outra metade do casco, ainda presa e immovel entre as duas Douvres. Do abalo á queda, a distancia era pequena. Com a teima do vento, a parte deslocada podia subitamente arrastar a outra que tocava quasi na pança, e tudo, pança e machina, ficaria engulido.

Gilliatt, tinha isso diante dos olhos.

Era a catastrophe.

Como desvial-a?

Gilliatt, era daquelles que tiram recurso do proprio perigo. Reflectio um momento.

Depois, foi ao deposito e tirou o machado.

O martello trabalhára muito; era chegada a vez do machado.

Gilliatt subio á Durande. Firmou-se na parte do navio, que ainda estava segura, e, inclinado sobre o precipicio do intervallo das Douvres, pôz-se a cortar as taboas quebradas, e tudo quanto ainda prendia o pedaço de casco pendente.

Consummar a separação dos dous pedaços do casco, libertar a metade solida, deitar ao mar aquillo que o vento destruira, dar o quinhão á tempestade, tal era a operação. Era mais perigosa que difficil. A metade pendente do casco, empuchada pelo vento e pelo peso, adheria apenas por alguns pontos. O conjuncto do