Página:Os trabalhadores do mar.djvu/555

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Gilliatt olhou em roda de si.

Estava cercado de uma porção de carangueijos.

Não se mexiam elles. Era o aspecto de um formigueiro morto. Todos os carangueijos estavam mortos. Estavam vasios.

Os grupos, semeados, faziam no chão de seixos que enchiam a cava, constellações disformes.

Gilliatt, com o olhar fito em outra parte, caminhára por cima sem reparar.

Na extremidade da crypta onde chegára Gilliatt, havia maior espessura. Era um montão immovel de antennas, de patas, e de mandibulas. Pinças abertas conservavam-se direitas, e já se não fechavam. As caixas de ossos não se mechiam debaixo da sua crosta de espinhos; algumas viradas mostravam o interior livido. Este amontoado parecia uma multidão de sitiantes e tinha o entravamento de um espinheiro.

Debaixo desse montão estava o esqueleto.

Via-se debaixo dessa porção de tentaculos e escamas, o craneo com as estrias, as vertebras, os femures, os tibias, os longos dedos nodosos, com unhas. As costellas estavam cheias de caranguejos. Tinha palpitado alli algum coração. Os buracos dos olhos estavam atopetados de bolor marinho. Algumas conchas tinham deixado a sua baba nas fossas nasaes. Não havia nesse recanto da caverna nem sargaços, nem hervas, nem sopro de ar. Nenhum movimento. Os dentes riam.

O lado assustador do riso, é a imitação que faz delle uma caveira.