Página:Os trabalhadores do mar.djvu/560

Wikisource, a biblioteca livre
— 88 —

chamar o encontro das hypocrisias. Houve no fundo do abysmo, um embate dessas duas existencias feitas de emboscada e de trevas, e uma, que era a besta, executou a outra, que era a alma. Sinistras justiças.

O carangueijo alimenta-se da carne morta, a pieuvre alimenta-se de carangueijos. A pieuvre apanha um animal que nada, uma lontra, um cão, um homem se póde, bebe-lhe o sangue, e deixa no fundo d’agua o corpo morto. Os carangueijos são os escaravelhos necrophoros do mar. Attrahe-os a carne putrida; elles approximam-se, comem o cadaver; a pieuvre os come depois. As cousas mortas desapparecem no carangueijo, o carangueijo desapparece na pieuvre. Já indicamos esta lei.

Clubin foi o engodo da pieuvre.

A pieuvre reteve-o e affogou-o; os carangueijos o devoraram. Alguma vaga o levou para aquella cava, no fundo da anfractuosidade onde Gilliatt o achou.

Gilliatt voltou, procurando nos rochedos outra cousa que não fosse carangueijos. Parecer-lhe-hia comer carne humana.

Demais, elle tratava de cear o melhor possivel antes de partir. Já nada o retinha no rochedo. As grandes tempestades são sempre seguidas de uma calma que dura muitos dias ás vezes. Nenhum perigo havia ainda quanto ao mar. Gilliatt estava resolvido a partir no dia seguinte de manhã. Era conveniente conservar durante a noite, por causa da maré, o tapamento ajustado entre as Douvres; mas Gilliatt contava desfazer de madrugada essa tapagem, empurrar a pança para fora, e abrir vela para Saint-Sampson. A brisa de calma