Página:Os trabalhadores do mar.djvu/563

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na pança; a pança com mais essa carga mergulhou algumas polegadas, e, mesmo depois do apaziguamento das vagas, o peso do liquido filtrado, fazendo levantar a linha de fluctuação, manteve o buraco debaixo d’agua. Dahi vinha a imminencia do perigo. A cheia augmentára de seis pollegadas a vinte. Mas conseguindo tapar o buraco, podia-se esvasiar a pança; esvasiada a pança, voltaria á fluctuação normal, a fractura sahiria d’agua, e a secco, a reparação seria facil, ou ao menos possivel. Gilliatt, como dissemos, tinha ainda a ferramenta de carpinteria em bom estado.

Mas quantas incertezas antes de chegar a isso! Quantos perigos! Quantas más probabilidades! Gilliatt ouvia a agua correr inexoravelmente. Um empuchão e tudo iria a pique. Que desgraça! Talvez já não fosse tempo.

Gilliatt accusou-se amargamente. Deveria ter visto a avaria. As seis polegadas d’agua no porão deviam têl-o advertido. Foi estupidez attribuir as seis pollegadas d’agua á chuva e á espuma. Exprobrou-se o ter dormido e o ter comido; exprobrou-se a fadiga, e quasi também a tempestade e a noite. Tudo era culpa delle.

Essas cousas duras, que elle dizia a si proprio, iam de envolta com o vai-vem do trabalho e não o impediam de observar.

Achar o buraco ora o primeiro passo; tapal-o era o segundo. Não se podia mais agora. Não se faz carpintaria debaixo d’agua.

Havia uma circumstancia favoravel, era que o buraco do casco foi aberto no espaço comprehendido