Página:Os trabalhadores do mar.djvu/642

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coberta de hera, levantando com um gesto machinal a manga do vestido até o cotovello, mostrando o seu delicioso braço nú, com uma luz afogada e pallida nos olhos fixos. O bote approximava-se.

Ebeneser segurou-lhe a cabeça nas mãos; aquella virgem tinha o ar de uma viuva e aquelle mancebo tinha o ar de um avô. Tocou-lhe os cabellos com uma especie de precaução religiosa; fitou os olhos nella durante alguns instantes, depositou-lhe na fronte um desses beijos debaixo dos quaes parece que deveria abrir uma estrella, e com uma voz que tremia na suprema angustia e onde se sentia a dilaceração da alma, disse-lhe esta palavra, a palavra das profundezas: Adeos!

Deruchette rompeu em soluços.

Neste momento ouviram uma voz lenta e grave que dizia:

— Porque motivo não se casam?

Ebeneser voltou a cabeça. Deruchette levantou os olhos.

Gilliatt estava diante delles.

Acabava de entrar por um atalho lateral.

Gilliatt já não era o mesmo homem da vespera. Tinha penteado os cabellos, fez a barba, calçou os sapatos, vestio camisa branca de marinheiro com grandes collarinhos cabidos, vestio a roupa de marinheiro mais nova. Via-se um annel de ouro no dedo minimo. Parecia profundamente calmo. Estava livido.

Bronze que soffre, tal era aquelle rosto.

Os dous olharam para elle estupefactos. Embora não se podesse reconhecel-o, Deruchette reconheceu-o.