Página:Os trabalhadores do mar.djvu/665

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os daphnes, as glycinas, compunham nas moitas uma deliciosa variedade de côres. Uma linda lentilha aquatica que ha em Guernesey cobria as lagôas de uma toalha de esmeralda. Banhavam-se as arveloas nas lagôas, onde costumam fazer tão graciosos ninhos. Via-se o céo atravez de todas as falhas da vegetação. Algumas nuvens lascivas perseguiam-se no ar ondeando como nymphas. Como que se sentia a passagem de beijos mandados por bocas invisiveis. Nenhum velho muro deixava de ter, como um noivo, o seu ramalhete de gyrofleas. Os abrunheiros sylvestres e os codeços estavam em flôr; viam-se aquelles montinhos brancos luzindo e aquelles montinhos amarellos fulgurando atravez do cruzamento dos ramos.

A primavera atirava toda a sua prata e ouro no immenso cesto rasgado dos bosques. Os pimpolhos novos eram verdes de fresco. Ouvia-se no ar um grito de saudação. Estio hospitaleiro abria a porta aos passaros longinquos. Era a hora da chegada das andorinhas. Os thyrsos dos juncos orlavam os caminhos cavados, esperando os thyrsos dos pilriteiros. O bello e o lindo faziam boa visinhança: o soberbo completava-se pelo gracioso; o grande não tolhia o pequeno; não se perdia nenhuma nota do concerto; as magnificencias microscopicas estavam em plano proprio naquella vasta belleza universal; distinguia-se tudo como n’uma agua limpida. Por toda a parte uma divina plenitude e um entumecimento mysterioso faziam advinhar o exforço panico e sagrado da seiva em acção. O que brilhava, brilhava mais; o que amava, amava melhor. Havia um hymno na flôr e uma irradiação no ruido. Escutava-se a grande