Era uma aurora surgindo
Dentre as brumadas de abril;
Um calibri ensaiando
O primo vôo gracil;
Um sonho azul começado
No seio de uma bromelia;
Tal era a loura creança,
Tal era a menina Aurelia.
Cinco annos depois, o acaso
Tez-me encontra-la na rua,
Um chale rôto, indecente,
Cobria-lhe a espadua núa,
Pallida, anemica e triste,
Passo incerto e desigual,
Deixava a pobre e mesquinha
Os grabatos do hospital.
Cinco annos! Quem dissera?
A fome, a doença atroz,
Estamparam-lhe no rosto
Decrepitude precóz.
Tinha dos olhos perdido
Todo o brilho divinal,
Perdido da rosea bocca
O bipartido coral...
O que fizeste, insensata,
(Dize em segredo ao poeta)
Dize, oh larva, o que fizeste
De tua azul borboleta;
Onde, oh louca perdularia,
Tantos e tantos thesouros;
Página:Parnaso Sergipano (Volume 1).pdf/101
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PARNASO SERGIPANO
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