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berancia da India ou Grecia, por seu turno tão fracas nas cousas do Estado. Não é só isto: o talento oratorio, quasi sempre associado á intelligencia de certa classe de politicos, e muito commum entre bahianos, é, sabe-se bem hoje, incompativel com a verdadeira poesia, peculiarmente a poesia lyrica. E’ por isso que a Bahia tão prodiga em talentos aptos para os negocios publicos, foi sempre tão incolôr e apagada nos dominios do lyrismo.

A terra de Cayrú, Rio Branco, Abrantos, Monserrate, Nabuco, Lacerda, Cotegipe, Jequitinhonha, São Lourenço, Fernandes, da Cunha, tem sido sempre, comparativamente, pobre de poetas, digo, de bons, de grandes poetas, que possam emparelhar com seus politicos e oradores.

Até hoje com justiça a Bahia tem possuido apenas quatro nomes notaveis na poesia: Gregorio de Mattos, Moniz Barreto, Castro Alves e Mello Moraes Filho. Mas d’este mesmo numero é mister em nome da divina arte no que ella tem de superior e immarcessivel, excluir os dois primeiros. Gregorio é mais um typo curioso do que um poeta. E’ digno de nota como andarilho, fallador, maldizente, satyrico, brigão; é um homem que serve de documento de uma época, uma triste época da rude formação de nossa vida nacional.

Não foi uma alma de sonhador, ou de artista, um embriagado de ideal: longe d’isso. Moniz Barreto merece menção na historia litteraria pelo singular talento do repentista que realçava.

Foi neste sentido um phenomeno singularissimo; porem é só isto. Sua poesia, quando meditada e escripta, é de uma mediocridade, d’uma sovinaria de predicados de metter dó. Aspera e desenchabida, alastra-se tropego por paginas e paginas illegiveis.

O celebre improvisador com seus rançosos moldes classicos, fez, por seu prestigio de repentista, grande mal a poesia bahiana desviando-a do bom caminho.

Castro Alves, este sim, é um notavel poeta e o foi exactamente, precisamente reagindo contra pessimas tradições das musas de sua

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IX