Página:Parnaso Sergipano (Volume 1).pdf/34

Wikisource, a biblioteca livre
6
sylvio roméro



Acordei sem uma crença…
Quiz amor depois… Mentira !
Na minh’alma se extinguira
Todo o nobre sentimento ;
Só fiquei com a consciencia
De minha extincta innocencia
De meu negro aviltamento.

Tão moço ! E já do passado
Triste, pallida ruina,
Com o coração gangrenado
Dos beijos da messalina !
Do porvir nem luz d’esp’rança,
Do passado, atroz lembrança
Do tempo que errado andei…
E o resto então d’uma vida,
Pelo vicio carcomida,
Ao proprio vicio entreguei.

Aos pés de gentil donzella,
Perdido, lancei-me um dia,
E jurei que a amada, e ella
Creu na jura qu’eu fazia ;
E quando, ai triste ! esperava
O porvir que lhe acenava
D’aureos sonhos através,
Da vida quebrei-lhe o encanto,
De virgem rasguei-lhe o manto
E rôto atirei-lhe aos pès.

Enlouqueceu de desgosto ;
De sua loucura—ri-me!
Cuspi-lhe depois no rosto ;
Fui assim de crime em crime…
E, da paixão na vertigem,
Essa que fora uma virgem
Lancei do mundo á irrisão.—