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parnaso sergipano
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Fôra inutil na pagina, que escrevo,
Veroneso traçar subtil relêvo,
Pintando imagens de celeste alvôr.
A’ Golconda pedir bello diamante,
E um lindo verso, que escrevera o Dante,
Fora inutil buscar e aqui depôr.

Fora inutil pedir ás Sorrentinas
Uma nota siquer das cavatinas,
Que ellas cantam do amor, meu Deus, tão bem !
Que eu deponho-te aqui maior thesouro,
Que as riquezas de Ophir, que o proprio ouro,
Que o rico sólo do Brazil contem.

E o thesouro, has de vêr, é um nome sancto,
Como dos olhos maternaes um pranto,
Nas horas de partir, valendo o adeus.
Tão doce como as molles serenatas,
Como o som murmurante das cascatas,
Ou qual prece infantil, que sòbe a Deus.

E esse nome, has de vêr, mais puro e bello,
Que do insonte cordeiro o branco velo,
Dos sacrificios, que na Biblia eu li,
E’ doce como o cantico, de uma ave,
Mais doce que do Hymetto o mel suave
Em taça de ouro da mais linda houri.

E esse nome, has de vêr, tem mais poesia,
Que os sons accordes, que David tangia,
Quebrando as iras de feroz Saúl.
Mais bello do que o sòl dourando os bosques,
Do que a lua a bater sobre os kiosques
Da soberba e gentil, molle Stambul.