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Os Poetas Sergipanos


I

Esquecido ou ludibriado pelas grandes provincias, as quaes, por dispôrem da brutalidade numerica dos votos no Parlamento, e, conseguintemente, fazerem a politica brasileira a seu talante, nutriam a doce illusão de ser os guias de nossa vida espiritual, o pequeno Sergipe nunca foi bem comprehendido e menos devidamente acatado.

Assim era durante o imperio, que, como força de concentração, se mostrou muito mais poderoso do que a republica actual, e mais ainda tem sido e continuará a sêl-o sob o regimen vigente, cuja acçao despersiva é soffrivelmente notavel.

Mas, a injustiça é palmar ; porquanto, se neste paiz ha região digna de apreço pelo seu valor intrinseco, é a terra sergipense, e se d’entre nossas gentes algumas se deixam notar pela vivacidade da intelligencia, os sergipanos figuram entre ellas por direito de conquista. Sendo incontestavelmente uma das regiões mais povoadas do Brasil, foi sempre theatro de uma vida politica e espiritual muito intensa. Apertado entre a Bahia e Pernambuco durante os tempos coloniaes, recebendo o impulso de ambos os lados, Sergipe veio a faser uma especie de refugio, de região neutra, onde abastados zendeiros se vieram collocar, aproveitando os uberrimos terrenos estendidos do São Francisco ao Rio Real.

Bem cêdo São Christovam, a bella cidade fundada no seculo XVI, tomou-se um nucleo apreciavel pelo gosto e pela cultura. Varias ordens religiosas erigiram alli magnificos conventos, crearam aulas de humanidades, e, no tempo do imperio, um funccionalismo e uma magistratura notaveis conservaram bem vivaces as fontes da intelligencia. Varias outras cidades e villas, como Estancia, Laranjeiras, Maroim, Lagarto, Itabayana, e mais tarde, Aracajú foram, por seu turno, pontos consideraveis de expansão mental.