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Que me importava a mim o arfar da terra,
E nas moutas em flôr os verdes ninhos?
O sol que enche de luz a longa estrada,
Se me não traz o que minh'alma espera,
Pôde apagar seus raios seductores:
Não é o sol, não é a primavera!
Margaridas, cahí, morrei nos campos,
Perdei o viço e as delicadas côres;
Se ella vos não aspira o halito brando,
Já o verão não sois, já não sois flôres!
Prefiro o inverno desfolhado e mudo,
O velho inverno, cujo olhar sombrio
Mal se derrama nas cerradas trevas,
E vai morrer no espaço humido e frio,
É esse o sol das almas desgraçadas;
Venha o inverno, somos tão amigos!
Nossas tristezas são irmãs em tudo:
Temos ambos o frio dos jazigos!
Contra o sol, contra Deos, assim fallava
Dês que assomavão matinaes albores;