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MYRTO.

                        Tenho medo... do mar.


CLEON.

Teu sepulcro já foi; o medo é justo; fica.
Lesbos é para ti mais formosa e mais rica.
Mas a patria é o amor; o amor transmuda os ares.
Muda-se o coração? Mudam-se os nossos lares.
Da importuna memoria o teu passado exclue;
Vida nova nos chama, outro céu nos influe.
Fica; eu disfarçarei com rosas este exilio;
A vida é um sonho máu: façamo-la um idylio.
Cantarei a teus pés a nossa mocidade.
A belleza que impõe, o amor que persuade,
Venus que faz arder o fogo da paixão,
Teu olhar, doce luz que vem do coração.
Pericles não amou com tanto ardor a Aspasia,
Nem esse que morreu entre as pompas da Asia,
A Lais siciliana. Aqui as Horas bellas
Tecerão para ti vivissimas capellas.
Nem morrerás; teu nome em meus versos ha de ir,
Vencendo o tempo e a morte, aos seculos porvir.


MYRTO.

Tanto me queres tu!


CLEON.

                        Imensamente. Anceio