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VELHO TEMA
 
I
 

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a ezistencia, rezumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ancioza e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Arvore milagroza que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Eziste, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.