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«Das graças, o padrão da eterna meninice,
         «E mais a gloria, e mais o amor.»

E elle deixou-se estar a contemplal-a, mudo,
         E tranquillo, como um faquir,
Como alguem que ficou deslembrado de tudo,
         Sem comparar, nem reflectir.

Entre as azas do insecto, a voltear no espaço,
         Uma cousa lhe pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço
         E viu um rosto, que era o seu.

Era elle, era um rei, o rei de Cachemira,
         Que tinha sobre o collo nú
Um immenso collar de opala, e uma saphyra
         Tirada do corpo de Vischnu.

Cem mulheres em flôr, cem nayras superfinas,
         Aos pés delle, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
         E todo o amor que tem lhe dão.

Mudos, graves, de pé, cem ethiopes feios,
         Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios,
         Voluptuosamente nus.

Vinha a gloria depois; — quatorze reis vencidos,
         E enfim as páreas triumphaes