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Celio, a flôr dos vadios, nobre moço,
E opulento, o que é mais. Ambicioso
Quer triumphar na classica tribuna
E honras aspira até do consulado.
Mais custoso lavor não vestem damas,
Nem aroma melhor do seio exhalam.
Tem na altivez do olhar sincero orgulho,
E certo que o merece. Entre os rapazes
Que á noite correm solitarias ruas,
Ou nos jardins de Roma o luxo ostentam,
Nenhum como elle, com mais ternas falas,
Galanteou, vencendo, as raparigas.

Entra: pregam-se nelle cobiçosos
Olhos que amor venceu, que amor domina,
Olhos fieis ao férvido Catullo.

O poeta estremece. Brando e frio,
O marido de Clodia os olhos lança
Ao mancebo, e um sorriso complacente
A boca lhe abre. Imparcial na luta,
Vença Catullo ou Celio, ou vençam ambos.
Não se lhe oppõe o dono: o aresto acceita.

Vistes já como as ondas tumultuosas,
Uma após outra, vem morrer á praia,
E mal se rompe o espumeo seio áquella.
Já esta corre e expira? Tal no peito
Da calorosa Lesbia nascem, morrem
As voluveis paixões. Vestal do crime,
Dos amores vigia a chamma eterna,