Página:Poesias Completas (Machado de Assis).pdf/365

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Com o vinho, a vergonha. Sombra triste,
Sombra de occultas e profundas magoas,
Tolda a fronte ao poeta.

                        Os mais, alegres,
Vão ruminando a saborosa ceia;
Circúla o dito equivoco e chistoso,
Comentam-se os decretos do senado,
O molho mais da moda, os versos ultimos
De Catullo, os leões mandados de Africa
E as victorias de Cesar. O epigramma
Rasga a pelle ao caudilho triumphante;
Chama-lhe este: «O larapio endividado»,
Aquelle: «Venus calva», outro: «O bithynio...»
Opposição de ceias e jantares,
Que a marcha não impede ao crime e á gloria.
Sem liteira, nem lybicos escravos,
Clodia vae consultar armenio aruspice.
Quer saber se hade Celio amal-a um dia
Ou desprezal-a sempre. O armenio estava
Meditabundo, á luz escassa e incerta
De uma candeia etrusca; aos ombros delle
Decrepita coruja os olhos abre.
«Velho, aqui tens dinheiro (a moça fala),
Se á tua inspiração é dado agora
Adivinhar as cousas do futuro,
Conta-me...» O resto expõe. Ergue-se o velho
Subito. Os olhos lança cobiçosos
Á fulgente moeda. — «Saber queres
Se te hade amar esse mancebo esquivo?»