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 — «Sim.» — Cochilava a um canto descuidada
A avezinha de Venus, branca pomba.
Lança mão della o aruspice, e de um golpe
Das entranhas lhe arranca o sangue e a vida.
Olhos fitos no velho a moça aguarda
A sentença da sorte; empallidece
Ou ri, conforme do ancião no rosto
Ocultas impressões vem debuxar-se.
«Bem haja Venus! a victoria é tua!
O coração da victima palpita
Inda que morto já...»

                        Não eram ditas
Estas palavras, entra um vulto... É elle?
És tu, cioso avante!

                        A voz lhes falta
Aos dous, contemplam-se ambos, interrogam-se;
Rompe afinal o lugubre silencio...

Quando o vate acabou, tinha nos braços
A namorada moça. Lacrimosa,
Tudo confessa. Tudo lhe perdôa
O desvairado amante. «Nuvem leve
Isto foi; deixa lá memorias tristes,
Erros que te perdoo; amemos, Lesbia;
A vida é nossa; é nossa a juventude.»
«Oh! tu és bom!» — «Não sei; amo e mais nada.
Foge o mal donde amor plantou seus lares.
Amar é ser do céu.» Supplices olhos