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Do orbe ao nucleo fervente, que as gerára,
Ellas nas fauces dos volcões descessem.
Então para essa campa flores, bençãos,
Ou de saudade lagrymas vertidas,
Qual do velho soldado a lousa pede,
Não pedíras á ingrata raça humana,
Ao pé de ti no seu sudario involta.






Este longo esperar do dia extremo,
No esquecimento do ermo abandonada,
Foi duro de soffrer aos teus remidos,
Oh redemptora cruz. Eras, acaso,
Como um remorso e accusação perenne
No teu rochedo alpestre, onde te viam
Pousar tristonha e só? Acaso, á noite,
Quando a procella no pinhal rugia,
Criam ouvir-te a voz accusadora
Sobrelevar á voz da tempestade?
Que lhes dizias tu? De Deus falavas,
E do seu Christo, do divino martyr,
Que a ti, supplicio e affronta, a ti maldicta
Ergueu, purificou, clamando ao servo,
No seu trance final: — Ergue-te, escravo!