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És livre, como é pura a cruz da infamia.
Ella vil e tu vil, sanctos, sublimes
Sereis ante meu Pae. Ergue-te, escravo!
Abraça tua irman: segue-a sem susto
No caminho dos seculos. Da terra
Pertence-lhe o porvir, e o seu triumpho
Trará da tua liberdade o dia.»

Eis porque teus irmãos te arrojam pedras,
Ao perpassar, oh cruz! Pensam ouvir-te
Nos rumores da noite, a antiga historia
Recontando do Golgotha, lembrando-lhes
Que só ao Christo a liberdade devem,
E que impio o povo ser é ser infame.
Mutilado por elle, a pouco e pouco,
Tu em fragmentos tombarás do cerro,
Symbolo sacrosancto. Hão-de os humanos
Aos pés pisar-te; e esquecerás no mundo.
Da gratidão a divida não paga
Ficará, oh tremenda accusadora,
Sem que as faces lhes tinja a côr do pejo;
Sem que o remorso os corações lhes rasgue.
Do Christo o nome passará na terra.