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AO POETA
(SONETO)
Poeta, em nada tem do povo a sympathia !
De encomios a effusāo vai breve o estrondo em bando.
Voto ouvirás do tolo e o rir da turba fria,
mas conservar-te-has firme, tranquillo e brando.
Tu—que és rei—vive só. Por trilho livre andando
vai, onde em liberdade o espirito te guia,
dos bons juizos teus os fructos sazonando,
sem recompensas q՚rer pelo acto de valia.
Mesmo em ti sāo. Tu proprio és teu juiz superno;
mais que outros, sabes duro o teu labor julgar-te.
Com elle estás alegre, artista austero eterno.
És contente? Pois deixa a multidāo grasnar-te,
deixa-a escarrar no altar onde é teu fogo terno
e em pueril petulancia a tripoda agitar-te!..
(1887. Tom. 3°, pag. 293.)
(Anno 1830.)