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É possivel que alguns amigos do defuncto Duque façam agora reviver e circular a sua carta, dando-lhe a importancia de uma especie de testamento politico. Até hoje porem creio que esta historia não transpirou em publico; nem sera conveniente que por nossa via se espalhe, para não abusar da confiança da pessoa de quem eu a soube, que é uma das mais interessadas no caso.

O Duque de Clarence, hoje herdeiro presumptivo do Throno de Inglaterra, não tem por ora filhos, e por sua morte succede nos seus direitos a Princeza Victoria, menina de idade de oito annos, filha do fallecido Duque de Kent. O Duque de Clarence não tem nem a influencia, nem o bom senso e capacidade para uma certa ordem de negocios, que possuia o Duque de York; comtudo não póde considerar-se como um indivíduo indifferente n'este Paiz o successor immediato ao Throno. Suppõe-se que o Duque de Clarence abraçará um systema politico opposto ao de seu irmão, e que se declarará em favor da emancipação dos Catholicos, augmentando assim infinitamente a força do partido que sustenta no Ministerio e no Parlamento essa causa.

Por outro lado, o partido a que chamarei anti-liberal considera agora em certo modo como chefe o Duque de Wellington, que acaba de ser nomeado para occupar o posto, vago pela morte do Duque de York, de Commandante em Chefe do Exercito, conservando ao mesmo tempo o seu logar no Gabinete, e accumulando d'est'arte empregos que só foram conferidos n'outro tempo ao Duque de Malborough. Duvidava-se no publico se n'elle, ou no Duque de Cambridge, irmão d'El-Rei, recahiria o commando do exercito; porém o favor d'El-Rei, os illustres serviços do Duque de Wellington, e a menos reconhecida capacidade do Duque de Cambridge decidiram a questão a favor do primeiro.

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Deus Guarde a V. Ex.ª Londres, 9 de Janeiro de 1827.
Ill.mo e Ex.mo Sr. D. Francisco de Almeida.

Marquez de Palmella[1].

  1. Sr. Reis e Vasconcellos, Despachos etc. do Duque de Palmella, Tom. III pag. 15. — 0 resto do Officio trata de outros negocios.