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N.° 8
Officio do Marquez de Palmella, sobre a batalha de Navarino

Ill.mo e Ex.mo Sr.

Quando menos se esperava ouviu-se resoar por toda esta capital a noticia de uma grande victoria conseguida pelas esquadras das tres Potencias alliadas sobre as frotas Egypcia e Turca, que foram completamente destruídas na tarde de 20 de Outubro dentro do porto de Navarino.

Os detalhes d'este glorioso successo, que até ao presente são conhecidos aqui, acham-se todos no Officio do Almirante Codrington, publicado na Gazeta do Governo, de que tenho a honra de remetter um exemplar incluso, assim como no correspondente Officio do Almirante francez de Rigny, que V. Ex.ª sem duvida terá visto já nos jornaes de Paris, e se acha traduzido nas folhas inglezas que hoje remetto. Vê-se que reinou a melhor harmonia entre os tres Commandantes, havendo Codrington tomado a direcção superior em virtude do ajuste existente entre os tres Governos, que designa para esse fim aquelle dos tres Almirantes que tiver maior patente, e na escolha d'elles procurou-se de proposito que essa condição recahisse no Almirante inglez.

A defeza dos Turcos parece ter sido obstinada, sem embargo da especie de surpreza que se lhes fez, e das circumstancias accidentaes que deram motivo ao combate. Uma grande porção dos navios Inglezes e Francezes ficou tão maltratada, que não póde continuar a conservar-se no mar. Entretanto o golpe vibrado sobre os Ottomanos é decisivo. Ibrahim, privado de soccorros e mantimentos, vê-se na absoluta necessidade de evacuar a Moréa, e a independencia da Grecia sera o infallivel resultado da batalha de Navarino.

Varias opiniões se têem manifestado sobre a justiça ou conveniencia da resolução extrema que tomaram os tres Almirantes, como se acha expendido no protocollo da conferencia que tiveram antes de decidir-se o combate, e sobre o maior ou menor gráu de boa fé que possa ter havido no modo de avaliar as provocações feitas imprudentmnente pelos Turcos, e que deram motivo ou pretexto á acção. Esta materia