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nairement pour l’homme médiocre. On est charmé de donner à celui-ci; on est enchanté d’ôter à celui-lá. Pendant que l’envie fond sur l’un et qu'on ne lui pardonne rien, on supplée tout en faveur de l’autre: la vanité se declare pour lui »[1]

Cicero dizia a Appio Pulchro: « muitos homens sem merecimento têem conseguido as insignias do merito[2] »; o que é mais certo e frequente do que a sentença que Tito Livio põe na bocca dos sediciosos: « por grandes honras se sublimam os espiritos » [3]. Outro rival do talento são as riquezas: ainda hoje se vê, como no tempo em que Antonio Ferreira escreveu a sua comedia Bristo, que « não ha rocha tão ingreme, e tão áspera, por onde não trepe um asno carregado de ouro ».

Cumpre porém insistir no que ja se apontou acima; exige-se no diplomata uma circumstancia que o maior talento não poderá supprir, isto é, a educação; e sobre tudo para o desempenho de missões permanentes. É muito raro que uma educação tardia possa ageitar-se a novas condições de existencia, de modo a encubrir esse defeito que o mundo dos gabinetes e dos salões, com sagacidade implacavel, descobre logo e não perdoa sem grandes compensações, e assim mesmo simuladamente. Falta-lhe aquelle não sei quê que se adquire só pelo habito, não por força de vontade, e que se traduz pela naturalidade. Em pessoas n’essas condições a facilidade degenera muitas vezes em presumpção ou desembaraço atrevido, a modestia em mero acanhamento,

o respeito em submissão, a gravidade em arrogancia, o

  1. Lettres Persanes, Lett. 145.
  2. «Insignia enim virtutis multi etiam sine virtute assecuti sunt.» Ad FAM., Lib. III Epist. 13.
  3. « Magnos animos magnis honoribus fieri » Lib. IV c. 35.