Página:Quatro regras de diplomacia.pdf/15

Wikisource, a biblioteca livre
15

de ferro e fogo de effeito tão imponente, que bastaria prover a missão em qualquer alferes ou capitão; como aquelle Popillius de que Polybio da noticia[1], o qual, descrevendo com a bengala um circulo em volta do rei Antiochus, e prohihindo-lhe que d’alli sahisse emquanto não significasse a sua resposta, que este pretendia adiar, obteve o que queria; isto é, a «obediencia do monarcha ao decreto do Senado Romano, que lhe ordenava abster-se da guerra contra Ptolemeu, alliado da republica. E com tanta sobranceria se condena o Enviado, que, tendo primeiro recusado tomar a mão que lhe oderecera o rei, deu-lhe a sua depois de receber a desejada resposta. Isto faz lembrar uma anecdota occorrida ha poucos annos, n'uma das cortes da Europa, com referencia ao representante de uma republica. Na audiencia de recepção offerecera-lhe logo -o monarcha a sua mão ; mas em vez de a tomar o diplomata disse: «Esperae um momento, senhor»; e tirando da algibeira um papel e a sua luneta, pôz-se a ler o discurso, deixando o shake-hands para depois. É certo, porem, que o intento foi diverso; e dizem que o novo Popillius fizera uma libação aos deuses antes da audiencia.

A força dá com effeito um prestígio que nenhuma habilidade póde supprir. Assim é, talvez, pela magestade que cercava o nome romano, que se deva explicar a libera legatio, singularidade de que nos não consta haver memoria em outros povos[2]; e expressão que se não deve confundir,

  1. L. XXIX § 11.
  2. Embora haja, talvez, uma tal ou qual analogia na idea fundamental d'essas legações, com a que induzia alguns negociantes Hollandezes a impetrarem, de príncipes estrangeiros, titulos que os constituíam seus residentes (ao que allude Vattel, L. 4 c. 8 § 112), assim como hoje se obtem a nomeação para os consulados no paiz da nacionalidade ; as circunstancias comtudo eram bem diversas no caso de que tratamos.