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dedicadas á tyrannia, não podera pronunciar-se senão a proporção que avançar o exercito. Nos primeiros dias depois da entrada no Porto uma consideravel deserção houve da parte dos soldados do Senhor D. Miguel, mas sómente depois de uma derrota é que pode esperar-se uma verdadeira deserção.

Tal é o quadro fiel do estado das cousas em Portugal no fim de Julho, e Sua Magestade Imperial julgou conveniente n’estas circumstancias: 1.° fortificar as immediações do Porto e de Villa Nova e a entrada da barra, afim de collocar-se em estado não só de resistir a forças maiores que possam atacar, mas de ser-lhe possivel, com uma pequena guarnição, apoiada pelos habitantes que estão animados do melhor espirito, deixar a cidade entregue a si mesma, e senhor como está da passagem do Douro, marchar com quasi todos as suas forças a maiores distancias do que por ora o poderia fazer; 2.° recrutar o seu exercito (o que já conseguiu em parte, obtendo só na cidade mais de dois mil voluntarios), e ganhar tempo para receber de fóra alguns reforços de homens, de armas, e principalmente de cavallos, de que absolutamente se carece; além d’isto a demora da logar a que possam circular no reino as proclamações, e especialmente o decreto da amnistia, que faz um contraste tão notavel com as medidas sanguinarias do partido opposto; 3.° solicitar vivamente de Sua Magestade Britannica um apoio emcaz,- e é sobretudo n’este intuito que resolveu enviar o Marquez de Palmella a Londres para unir seus esforços aos dos Srs. Conde (lo Funchal e Abreu e Lima, fornecer todos os esclarecimentos que na qualidade de testemunha ocular elle póde dar relativamente as causas de Portugal. Primeiramente, suppondo que seja irrevogavel a declaração da neutralidade da Inglaterra, o reconhecimento formal da Rainha por parte de Sua Magestade Britannica, e a vinda immediata de um agente diplomatico junto de Sua Magcstade Imperial como Regente em nome de sua Filha teria sem duvida a maior inlfuencia, e o Duque de Bragança espera que o Governo Inglez não recusará prestar ao menos este apoio moral.

Uma tal medida não seria um desvio da neutralidade, ella poria sómente a Inglaterra no mesmo pé em que está a Hespanha, que, tendo-se proclamado neutral, conserva um ministro acreditado junto ao Infante D. Miguel. Além de que, não deve dissimular-se que a presença de um diplomata inglez, munido de poderes amplos para as eventualidades da guerra, ou seja para receber como intermediario as proposições que poderão fazer-se de uma ou de outra parte, ou seja para estabelecer a mediação, serve em todo o caso para se