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francez, Pierre Jeannin, pronunciados em sessões plenarias dos deputados dos Estados Geraes das Províncias Unidas, respiram um teor desapaixonado tão proprio de composições diplomaticas, e não os movimentos sacudidos da eloquencia e rhetorica antigas[1]. Assim mesmo Jeannin foi uma excepção no seu genero; por isso que n'aquelles tempos os letrados não costumavam figurar na primeira plana das embaixadas; mas sim algum personagem graúdo, em quem o erudito e o orador não teriam razão de ser.

O Dr. João de Faria, dando conta a el-rei D. Manuel da recepção em Roma da celebre embaixada de Tristão da Cunha, é um tanto emphatico quando allude á falla (em latim) de um dos Embaixadores Imperiaes, accrescentando: «porque este senhor Alberto de Carpe he grande orador, «com quanto he senhor de vasalos e grande estado» e da a entender que, salvos este e o castelhano, os demais Embaixadores não fallaram por sua bocca[2]. De feito, os discursos do estylo eram então de ordinario commettidos aos doutores e letrados que acompanhavam as embaixadas, quer como Embaixadores de segunda ordem, quer na qualidade

de addidos ou de secretarios. Em 1559, escrevia o Embai-

  1. Négociations du Président Jeannin (1607–1609), passim. É verdade que as negociações propriamente ditas realisavam-se em conferencias a sós com o principe Mauricio, o conde Guilherme, Barneveld e outros. De resto, em Roma antiga, além das audiencias publicas dadas aos Deputados estrangeiros, concedia-lhes o Senado tambem audiencias particulares. Polyb. L. 30 § 1. — Veja-se, a respeito da recepção do Ministro Portuguez João de Guimarães, pelo Parlamento Britannico em 1648, Quad. Elem. T. XVII p. 60 e seg.; e para as negociações com o mesmo Parlamento, do Embaixador conde de Penaguião, ibid. pp. 73 a 84; ou o nosso Catal. dos Mss. Portuguezes no Museu Britannico, de p. 171 a 175.
  2. Rebello da Silva, Corp. Dipl. Port. T. I, carta de 18 de março de 1514, pag. 235.