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do merecido desprezo, não deixaria certamente de lhe aguar o prazer do acolhimento amavel que obteve, se elle não fosse de animo tão vil, como se mostrou em outras conjuncturas[1].

Mas do que nem todos parecem persuadidos, é da inconveniencia, senão do perigo, de manifestar uma inclinação exaggerada para a politica interna da Côrte onde residem, fazendo-se partidarios da situação. Se já no antigo regimen não era para se aconselhar, maiores são os riscos que involve semelhante modo de proceder n'estes nossos tempos, em que, pelo systema constitucional, o governo de hoje pode amanhã converter-se em opposição. Alem do que, não é só a boa vontade do Governo que o diplomata se empenha, ou deve empenhar-se em cultivar, senão tambem a da sociedade; e as relações que mantém com esta não se cifram nos meros ocios dos salões; deve tambem saber tirar partido d’ellas, creando uma posição que lhe facilite o desempenho da sua missão no sentido mais lato, qualquer que seja o partido que estiver no poder. E como ha de conservar semelhante posição, mostrando-se dominado pelo espirito de partido? Se, pela sua índole, é dado a propensões d'esta natureza, deve ao menos forcejar em reprimir no intimo as suas opiniões, por quanto, agradando a uns, ha de offender os outros. É porém um dos escolhos em que o piloto-diplomata parece arriscar-se bastante: sem necessidade de desenrolar a bandeira que segue por affeição, poucos ha todavia com animo ou pericia sufficiente para a encubrir de todo.

Até aqui, quanto ao alludido extremo, a adulação. Do outro, isto é, da detracção, censura e satira, — em que de certo ninguem que deseje agradar ha de pensar sequer;

mas no qual, assim mesmo, alguns não deixam de tocar por

  1. Polyb, L. XXX § 10.