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habito ou esquecimento, — com quanto seja em these menos condemnavel do que o primeiro, por não ser ao menos attentatorio da dignidade pessoal, deve comtudo guardar-se o agente estrangeiro com igual cuidado, pelas pessimas consequencias que d'ahí podem resultar em prejuízo das relações que é sua obrigação crear, manter e fomentar. É todavia um escolho que, segundo parece, se despreza talvez com mais frequencia e leviandade do que o ultimo em que fallámos.

O escarnecedor, e outros typos congeneres, não são mui raros entre os diplomatas. N'alguns é impulso espontaneo, nascido de certa graça genuína no dizer; em outros é mera vaidade, inspirada pela presumpção de serem dotados d'essa graça, que na realidade não possuem; n'outros, finalmente, é habito inveterado, senão queda natural da maledicencia, que de farta as vezes se enerva até, como succedia ao Demonio, no poema de Lermontoff, o qual:

Andava semeando o mal sem goso,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Até que o proprio mal o aborrecia[1].

Quando o impulso dos primeiros é moderado pela urbanidade e discrição, o mal não é grande. Não esta no genio

  1. «On sseial zlo bez nasslajdenia;
    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
    I zlo nasskutchilo yemu»

    DEMON, TCH. 1 ST. 2.

    Tínhamos começado uma versão portugueza d'este poema, que consta de duas partes, e é dos mais estimados na Russia; versão que ficou interrompida por occasião da nossa sahida d'aquelle ímperio, tendo concluido sómente a primeira parte.