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dos segundos serem discretos; mas o mal tambem não é maior, porque esses só se tornam ridiculos. Quanto aos do terceiro grupo, sendo raramente governados pela prudencia, não conseguem encobrir por muito tempo a sua mordacidade, nem os sentimentos acerbos que os dominam; e acabam por geralmente cahir em desagrado. E se por ventura, pelo despeito, perderem de todo o dominio sobre si, desfazendo-se em censuras e commentarios desagradaveis, tornam-se então aborrecidos, e a propria posição intoleravel.

Temos assistido a casos d'esta natureza. N'um d'elles, a pessoa representava uma das grandes Potencias. Fiado talvez n'esse apoio, emittia sem reserva e sem rebuço as suas Opiniões a respeito do paiz da residencia, as quaes não peccavam pela lisonja. N'isto era secundado pela esposa, que tomava à sua conta os usos e costumes da sociedade, com a aspereza de um Juvenal, mais do que com o sabor e graça do poeta de Bilbilis, que talvez lhe houvera valido algum desconto. Em paga d'isso, boa parte d'essa sociedade foi-se, a pouco e pouco, despedindo do casal intolerante; até que, affinal, a cabeça d’este reciprocou a cortezia, dando a sua demissão, que foi acceita.

Nem sempre acontece, porém, que o desfecho seja tão pacifico e comparativamente innoxio. Temos d'isso dous conhecidos exemplos que se deram em Lisboa o seculo passado nas pessoas dos Embaixadores de França, o Abbade de Livri (1724) e o Conde de Merle (1759-60). Á leviandade acintosa do primeiro, derivada da sua ambição pessoal, foi devida principalmente a ruptura das nossas relações diplomaticas com aquella Potencia, a qual durou cerca de quatorze annos[1]. A malevolencia do segundo contribuiu

  1. Quad. Elem. das Rel. Pol. e Dipl. etc. T. V. pp. LXXXVI e segg., o 231 e seg.