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muito para azedar o animo do Gabinete Francez contra o de Lisboa, e precipitar o rompimento formal por ensejo do famoso Pacto de Familia[1].

Em geral, o homem entendido e experimentado occultarà o juizo desfavoravel, que por ventura tenha formado a respeito do paiz, da gente, dos costumes, etc., quando não seja a preposito manifestal-o com um fim determinado, conjunctura aliás rara. Ha mesmo occasiões em que conviria attenuar defeitos, embora reconhecidos no intimo; e até defender o que talvez provocasse a censura de nacionaes. É ao menos politica prudente, quando observada com discrição. Em regra não gostamos de ouvir os apoiados de estrangeiros, ao declamarmos contra o que se passa em casa. Se, pelo contrario, estes se calam, não estranhamos; e se se dignassem contrariar-nos em nosso proprio abono, por mais que portiassemos em nosso arrazoado, sentir-nos-hiamos movidos pela sympathia, nem desestimariamos até darmo-nos finalmente por vencidos. Mas se os forasteiros se atrevem a secundar os nossos dicterios com apoiados, esfria-se-nos logo o discurso, invade-nos a desconfiança, e se não fosse o pejo da reconsideração, investiriamos em continente com elles em sentido contrario. Ha excepções, sem duvida; mas essa é a tendencia geral, e só ella nos pôde servir de governo seguro, em quanto não conhecemos a fundo as pessoas com quem praticamos.

Será semelhante politica a dobrez e iingimento da má fé ou da hypocrisia? Tanto como a apparente resignação alegre ou satisfeita, que se exigia na victima dos sacrifícios antigos; ou tanto como a repugnancia manifestada pelos

novos eleitos ao tomarem assento na Cadeira de S. Pedro.

  1. Quad. Elem. das Rel. Pol. e Dipl. T. VI pp. XVIII e segg., e 144 e segg.; sobretudo os §§ 1 a 6 e § 16 da Memoria a p. 231 e segg.

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