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parleur, ao précieux, e aos que fazem de «importantes›, de «sabedores», etc. D'estes, alguns, levados da prudencia, são domi leones, foras vulpes, segundo a expressão de Ganymedes, no festim de Trimalchio; e com elles nada temos. Mas quem se não lembra de ter visto entre esses discipulos do filho de Maia, um ou outro que, pela postura, pelo pausado no fallar, por um silencio estudado, quer dar a entender que ha ali debaixo muito mais do que deixa apparecer — um poço insondavel? Vêde aquelle que meio absorto, meio acumulado, parece ser dos mais graduados na arcani disciplina dos príncipes; somos tentados a perguntar-lhe — que noticias nos traz do Céo?[1] E ess'outro, que da ponta do riso, se é que se digna rir, deixa cahir epilepticamente as palavras; é um verdadeiro gotejar do algeroz depois da chuva. Vimos um tão avaro d'ellas, que nem chegava a formar os periodos; porque, no seu entender, cada uma que se desprendia era uma perola solta. De outro nos recordamos, como se ainda o vissemos, a fazer de tartamudo: não gaguejava uma phrase que não fosse um fusilar de espirito, ou um dito de profundissima significação.

A esses typos, que felizmente não são dos mais vulgares, seria preferivel o cerebrosus de Horacio Flacco; porque, em depondo a ira, unica paixão sem outra opposta, pelo menos cahe em si.

Entre os grupos a que se poderia ainda dar a mesma classificação geral, talvez se deva incluir aquelle a cuja

  1. Recordamo-nos de certo diplomata de circumstancia, feito embaixador de salto, o qual aliás se tornára em tempo bastante conhecido na politica dos gabinetes. Não era dos exquisitos, é verdade; porém sujeito àquelle estado de delírio interno que o Dante explica na phrase: ºnon dormendo si sogna« De resto, durou pouco a sua missão.