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O Conde da Carreira, o Visconde da Torre de Moncorvo, o Conselheiro José de Vasconcellos e Sousa, o Visconde de Paiva, o Conde de Seisal, eram não menos estimados pela acrisolada lealdade do seu caracter, do que pela sua provada pericia diplomatica.

Seria um não acabar, se fosse necessario illustrar com exemplos, d'entre os diplomatas antigos e modernos, a alliança predominante do talento com a veracidade.

E com relação a este ponto, digamos, finalmente, com o Dante, conforme a elegante versão do sr. Conselheiro José Silvestre Ribeiro: «O homem não deve soltar dos labios «aquellas verdades que têem ares de mentira, que envergonham ellas, sem comtudo haver culpa»[1].

Posto que o caso se desse em esphera mais elevada, na dos proprios príncipes, não na dos seus agentes, a convicção erronea de que fosse victima da perfidia ou do embuste, explica a razão por que Hugo IV, Juiz soberano de Arborea, na Corsega, alias de educação agreste e descortez, respondêra tão grosseiramente a segunda embaixada que lhe enviou, em 1378, Luiz, Duque de Anjou, irmão de Carlos V de França. O Duque, tendo faltado aos compromissos da sua alliança com Hugo, para fazerem ambos a guerra ao rei de Aragão, por se ter visto obrigado a ceder as exigencias do irmão, que andava em hostilidades com a Inglaterra, desculpou-se por via dos seus embaixadores, promettendo agora pôr-se

em campanha, propondo nova alliança, e tambem o casa-

  1. Dante e a Divina Comedia por José Silvestre Ribeiro, Tom. I p. 124. —
    Sempre a quel ver ch'ha faccia di menzogna
    Dé l'uom chiuder le labra quanto el puote,
    Pero che senza colpa fa vergogna.»
    Infern. Cant. XVI vers. 124 e segg.