Página:Quatro regras de diplomacia.pdf/45

Wikisource, a biblioteca livre
45

mento de seu filho, que apenas tinha um anno, com a filha de Hugo, chegada já a idade nubil. A leitura das instrucções a luz da historia contemporanea, persuade-nos devéras que o Duque estava de boa fé; mas isso pareceu tão incrivel a Hugo, que não se contentou em dar pessimo acolhimento aos embaixadores, mandando até congregar e arengar o povo, como que para lhes dar assuada; senão que, na sua resposta, chama as desculpas do Duque «frivolas», «nem verdadeiras nem verosimeis», dizendo que «elle, Hugo, fôra enganado por promessas e juramentos falsos»; e concluindo por exigir compensação pelos prejuizos soffridos, accrescenta que «como quem mente uma vez se presume mentir sempre, nada mais quer tratar com elle Duque». Quanto á proposta de casamento, chama-a «ridicula» attenta a differença das idades[1].

Uma reserva exaggerada seria desacerto; a exaggeração é sempre má. O homem boutonné, segundo a expressão franceza, repelle as confidencias. Para as merecer, cumpre tambem sabel-as fazer. O homem entendido fará porém bom empate do seu cabedal ; para que renda, e com vantagem sua. A grande arte esta em receber mais do que se da. A habilidade de alguns sobe ainda de ponto, arrancando confidencias sem nunca pagar na mesma moeda. Mas quem acerta como excepção, 1á o saberá explicar. Ignoramos se, investigado o caso, ella se confirmaria ; como accidente, de certo; como systema, duvidamos.

A discrição unida a sinceridade inspira a confiança; e esta, para a confidencia, tem virtude attrahente.

Além de outros requisitos — como, designadamente, a

percepção da opportunidade, tão essencial ao que se póde

  1. Veja-se a relação authentica d'esta embaixada, na collecção das Chronicas de França por Buchon, sob o Sec. XIV.