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De feito, o chefe de Missão não é uma simples machina, senão um agente responsavel, a quem se deve conceder a necessaria liberdade para por si mesmo poder discriminar as cousas. No uso d'esta isenção, e das suas faculdades, toca-lhe a responsabilidade, expondo-se às consequencias quando proceder com desacerto.

Seria porém um erro palmar, e faltar ás obrigações mais sagradas, encubrir a minima circumstancia essencial ao Governo patrio para formar o seu juizo sobre um negocio; e se, n'um caso dado, se tornasse indispensavel que um Enviado lhe tlzesse constar de quem e como obteve a noticia que transmitte, não deve hesitar em completar assim a sua informação; e muito menos se semelhantes particularidades lhe fossem requisitadas. Mas, salvo n’esta ultima hypothese, é elle o juiz quanto a ser isso essencial, ou não.

Se a boa fé condemna qualquer tentativa de armar intrigas e mover rebelliões no seio de um Estado amigo, como se deu o caso quando Richelieu, por seus agentes, fomentava o descontentamento na Escocia contra Carlos I, por este se ter recusado a annuir ás propostas que lhe fizera por intermedio do Conde d'Estrades, descontentamento que, em 1638, se manifestou na confederação chamada

Covenant[1]; se foi escandalosa offensa da lealdade, a celebre

  1. «O anno não acabará sem que o rei e a rainha de Inglaterra se não arrependam de terem rejeitado as propostas que lhes fizestes por parte d'El-Rei,› escrevia Richelieu ao Conde, em carta de 2 de dezembro de 1837: O Cardeal cumpriu de feito a sua promessa de vingança. As propostas constam da carta do Conde, de 24 de novembro, dando conta ao Cardeal das suas entrevistas com os Soberanos Inglezes. Vid. Letters and Negociations of Count d’Estrades pp. 3 e 8.