Página:Quatro regras de diplomacia.pdf/73

Wikisource, a biblioteca livre
73

resses de um povo. Embora certa opinião demasiado vulgar pareça reconhecer na politica uma sciencia em que tudo é mysteríoso, não é menos verdade que os documentos officiaes devem ser redigidos com clareza e precisão; que o texto escuro, o sentido ambiguo, os equívocos são muito perigosos. Em diplomacia não basta fazer-se entender; cumpre ainda prevenir a ma fé para que se não aproveite de um sentido incerto, de uma palavra duvidosa, dando-lhe uma interpretação conforme aos seus interesses. No desvelo escrupuloso de conseguir a clareza, deve até incluir-se a pontuação; poisque se tem visto mais de uma vez depender de uma virgula o sentido de um artigo importante, e nascerem contestações muito graves de uma circumstancia na apparencia tão pueril.

«A escuridade resulta do pensamento mesmo, ou da sua enunciação, ou finalmente da falta de ordem nos pontos do discurso.

«Quanto à primeira causa da obscuridade, cumpre observar que é impossivel que seja claro quem se não entende a si proprio. O primeiro cuidado é, pois, meditar muito o assumpto por pouco que apresente alguma difficuldade, consideral-o sob todos os seus aspectos, analysando-o nos seus elementos até se ter d'elle uma idea exacta e bem definida.

«A clareza de que se compenetra o nosso espirito communicar-se-ha a expressão do pensamento, quer na escolha dos termos, quer na construcção dos periodos. As palavras devem ser castiças, apropriadas, bem cabidas e precisas.

«As palavras espurias são sobejas vezes inintelligiveis; os termos improprios afastam-nos da idéa, e até vem substituir-lhe outra; os que carecem de precisão, desnaturam-n'a, associando-lhe accessorios, enfraquecendo-a, ou exaggerando-a.

«No tocante á construcção dos periodos, cumpre observar