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seu uso deve ser a proposito. O abuso n’este particular teria uma apparencia ridicula de erudição. Se se está no caso de refular factos, principios ou maximas, cumpre fazel-o por provas contrarias directas.

«Não deveis perder de vista que as generalidades, as declamações e as invectivas de nada servem: são as armas da fraqueza e da paixão.

«Depois de termos escolhido as ideas, resta tratar do seu desenvolvimento. Ao compor qualquer assumpto, apresentam-se os argumentos principaes, e os de circumstancia. Nem todos têem, porem, a mesma importancia, nem excitam igual interesse. Consiste pois o desenvolvimento na arte de apresentar successivamente, com a devida amplidão, todas as idéas exigidas tanto pela materia como pelo fim. N'uma palavra, dizer quanto se deve dizer, referir o assumpto integralmente, dizer sómente o que convem, e dizel-o em poucas palavras, é o segredo de um bom desenvolvimento.

«A integridade do assumpto presuppõe que se não tenha omittido nenhum dos pontos interessantes que lhe dizem respeito. Quer se trate de fazer perguntas, de expôr aggravos, de estabelecer provas, de se oppôr a pretensões, de transmittir novidades, cumpre abranger n'um golpe de vista a totalidade da questão, e não omittir nada que a possa esclarecer ou favorecer. São evidentes as consequencias perigosas de semelhantes descuidos em negocios de estado.

«Uma prolixidade inutil seria comtudo grande defeito em escriptos politicos. Comquanto certas memorias sejam susceptiveis de maior desenvolvimento, nem porisso exigem menos o cunho da precisão. Devem excluir-se as particularidades minuciosas e superiluas, as repetições inuteis, e os pensamentos estranhos ao amago da questão. Cumpre ainda observar a devida proporção no desenvolvimento das idéas que se admittem segundo o grau da sua utilidade.

«Mas não basta dizer sómente o que convem. É neces-